Bairro Alto aos seus amores tão dedicado.
João Macdonald foi beber e comer petiscos com poetas à Tendinha da Atalaia, no Bairro.
Vamos comer um polvo bebé à Tendinha da Atalaia, vamos comer umas gambas, uns choquinhos, umas espetadinhas, queijo de cabra, uns enchidos bem seleccionados e até uns pimentos Padrón. Vamos comê-los por volta da uma da manhã. Vamos fazer isto ali no começo da Rua da Atalaia, de quem sobe, ao Bairro Alto, onde antes estava o restaurante com o mesmo nome. Fá-lo-emos neste novo petisco-bar – e registaremos de agora em diante o termo “petisco-bar” – de Martim Cymbron, bar como nenhum no bairro antigo. É bar – há copos e ouve-se música; e é lugar de petiscos tardios.
E Cymbron serve petiscos a sério. Sobre as cabeças dos clientes habitam os poetas da cidade, mas já lá iremos. Os convictos e descontraídos 34 anos de idade de Martim Cymbron estão tão bem para Lisboa como Lisboa está para o ensejo de haver convicta descontracção nas neo-tabernas das suas ruas de antanho.
Pois porque é por demais evidente que um “petisco bar” é uma taberna do tempo actual. Disto percebe o Cymbron: o rapaz é o inventor e proprietário da Taberna do Chiado, na Calçada Nova de São Francisco. Explica-nos: “Eu andava à procura de algo para continuar [como na Taberna do Chiado] a fusão entre o tradicional e o moderno.
A Tendinha estava disponível e era ‘o’ sítio”. Cymbron adquiriu-a à família do senhor Arneo, que a tinha tomado no longínquo ano de 1939. Mas a original Tendinha abriu num ano ainda mais longínquo, a 30 de Março de 1909, assim foi confirmado no registo predial. Um centenário, portanto.
No recente 25 de Abril a nova Tendinha da Atalaia fez-se. (A estas efemérides acrescente-se que o também penúltimo dia de Março, mas o de 1922, foi o da partida de Gago Coutinho e Sacadura Cabral para a primeira travessia aérea do Atlântico Sul – um copo à memória deles, então e também, neste lugar antigo. A Tendinha passa por muitas memórias de Lisboa).
Wiskeys, vodkas, gins e cervejas e tudo mais serve-se aqui, como num devido bar. Os petiscos, e de preferência os marítimos, definem a vontade da visita – enquanto açoriano de São Miguel, Cymbron garante a frescura desses petiscos, vindos no próprio dia das águas do arquipélago. E o lugar apresenta-se como um começo de noite: é que ele está numa das ruas de entrada para o Bairro Alto – e de final; ou, para os que estendem o programa, de intervalo noctívago, retemperando forças. Forças estas que são atendidas por inspiração poética: a temática que anima a Tendinha da Atalaia é a poesia. Numa enorme estrutura de metal recortam-se os nomes dos poetas mais sonantes e simbólicos destes lados da cidade: Chiado, Camões, Pessoa, Garrett. Foi assim que os arquitectos João Jácome e Carlos Ribeiro, do ateliê Archétypos, desenharam o lugar e encontraram razões inspiradas.
Na hora em que a Time Out visita a Tendinha, as portas já se encerram, não sem antes algumas amigas do petisco-bar entrarem. Washington, o brasileiro que toma conta do balcão, dá ainda as indicações musicais do ambiente: bossa nova, jazz tropical, espírito lounge, smooth-jazz. Tudo muito para ajudar à digestão. Mais ainda, música ao vivo: aos domingos, a partir das dez da noite, actua André Bahia, cantor, guitarrista, brasileiro.
No último copo da noite na Tendinha da Atalaia, e em honra da presença feminina tão prezada pelos poetas que o bar homenageia, destes versejadores – concretamente, Camões, que mora na estátua mesmo ao virar da esquina da rua – o passado declama: “Qualquer coisa busca o seu/ a fonte vai para o Tejo,/ e tu para o teu desejo/ por te vingares do meu.”. Ora aqui está a Tendinha da Atalaia.
Tendinha da Atalaia. Rua da Atalaia, 4. 21 347 4040. Todos os dias das 16.00 às 02.00.
terça-feira, 7 de Julho de 2009
Vamos comer um polvo bebé à Tendinha da Atalaia, vamos comer umas gambas, uns choquinhos, umas espetadinhas, queijo de cabra, uns enchidos bem seleccionados e até uns pimentos Padrón. Vamos comê-los por volta da uma da manhã. Vamos fazer isto ali no começo da Rua da Atalaia, de quem sobe, ao Bairro Alto, onde antes estava o restaurante com o mesmo nome. Fá-lo-emos neste novo petisco-bar – e registaremos de agora em diante o termo “petisco-bar” – de Martim Cymbron, bar como nenhum no bairro antigo. É bar – há copos e ouve-se música; e é lugar de petiscos tardios.
E Cymbron serve petiscos a sério. Sobre as cabeças dos clientes habitam os poetas da cidade, mas já lá iremos. Os convictos e descontraídos 34 anos de idade de Martim Cymbron estão tão bem para Lisboa como Lisboa está para o ensejo de haver convicta descontracção nas neo-tabernas das suas ruas de antanho.
Pois porque é por demais evidente que um “petisco bar” é uma taberna do tempo actual. Disto percebe o Cymbron: o rapaz é o inventor e proprietário da Taberna do Chiado, na Calçada Nova de São Francisco. Explica-nos: “Eu andava à procura de algo para continuar [como na Taberna do Chiado] a fusão entre o tradicional e o moderno.
A Tendinha estava disponível e era ‘o’ sítio”. Cymbron adquiriu-a à família do senhor Arneo, que a tinha tomado no longínquo ano de 1939. Mas a original Tendinha abriu num ano ainda mais longínquo, a 30 de Março de 1909, assim foi confirmado no registo predial. Um centenário, portanto.
No recente 25 de Abril a nova Tendinha da Atalaia fez-se. (A estas efemérides acrescente-se que o também penúltimo dia de Março, mas o de 1922, foi o da partida de Gago Coutinho e Sacadura Cabral para a primeira travessia aérea do Atlântico Sul – um copo à memória deles, então e também, neste lugar antigo. A Tendinha passa por muitas memórias de Lisboa).
Wiskeys, vodkas, gins e cervejas e tudo mais serve-se aqui, como num devido bar. Os petiscos, e de preferência os marítimos, definem a vontade da visita – enquanto açoriano de São Miguel, Cymbron garante a frescura desses petiscos, vindos no próprio dia das águas do arquipélago. E o lugar apresenta-se como um começo de noite: é que ele está numa das ruas de entrada para o Bairro Alto – e de final; ou, para os que estendem o programa, de intervalo noctívago, retemperando forças. Forças estas que são atendidas por inspiração poética: a temática que anima a Tendinha da Atalaia é a poesia. Numa enorme estrutura de metal recortam-se os nomes dos poetas mais sonantes e simbólicos destes lados da cidade: Chiado, Camões, Pessoa, Garrett. Foi assim que os arquitectos João Jácome e Carlos Ribeiro, do ateliê Archétypos, desenharam o lugar e encontraram razões inspiradas.
Na hora em que a Time Out visita a Tendinha, as portas já se encerram, não sem antes algumas amigas do petisco-bar entrarem. Washington, o brasileiro que toma conta do balcão, dá ainda as indicações musicais do ambiente: bossa nova, jazz tropical, espírito lounge, smooth-jazz. Tudo muito para ajudar à digestão. Mais ainda, música ao vivo: aos domingos, a partir das dez da noite, actua André Bahia, cantor, guitarrista, brasileiro.
No último copo da noite na Tendinha da Atalaia, e em honra da presença feminina tão prezada pelos poetas que o bar homenageia, destes versejadores – concretamente, Camões, que mora na estátua mesmo ao virar da esquina da rua – o passado declama: “Qualquer coisa busca o seu/ a fonte vai para o Tejo,/ e tu para o teu desejo/ por te vingares do meu.”. Ora aqui está a Tendinha da Atalaia.
Tendinha da Atalaia. Rua da Atalaia, 4. 21 347 4040. Todos os dias das 16.00 às 02.00.
terça-feira, 7 de Julho de 2009
Fonte: Revista Time Out Lisboa.
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